Apps e Neuroplasticidade: O Impacto Científico das Ferramentas Digitais no Desenvolvimento Infantil

Revisado em 17/04/2025

A relação entre tecnologia e desenvolvimento cerebral infantil nunca esteve tão em evidência quanto nos últimos anos. Aplicativos de comunicação têm revolucionado a forma como crianças aprendem, se comunicam e interagem com o mundo, especialmente aquelas com necessidades especiais.

Com o avanço dessas ferramentas digitais, pais, educadores e terapeutas enfrentam um questionamento fundamental: como esses apps realmente afetam o cérebro em desenvolvimento? A neuroplasticidade – capacidade do cérebro de se reorganizar e adaptar – está no centro dessa discussão, oferecendo respostas fascinantes sobre como a tecnologia pode moldar o desenvolvimento infantil.

Este artigo explora, com base em evidências científicas, como os aplicativos de comunicação influenciam a neuroplasticidade cerebral, apresentando tanto os benefícios quanto os possíveis riscos dessa interação, além de oferecer orientações práticas para maximizar os resultados positivos.

O Que É Neuroplasticidade e Por Que Importa?

A neuroplasticidade representa a notável capacidade do cérebro humano de modificar sua estrutura e função em resposta a experiências, aprendizados e estímulos ambientais. Este fenômeno ocorre durante toda a vida, mas é particularmente intenso na infância, quando o cérebro está em pleno desenvolvimento e estabelecendo conexões neurais fundamentais. Durante os primeiros anos de vida, aproximadamente um milhão de novas conexões neurais (sinapses) são formadas a cada segundo, criando as bases para todo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social futuro.

Este processo pode ser comparado à formação de caminhos em um campo gramado: quanto mais frequentemente um caminho é percorrido, mais definido e permanente ele se torna. Da mesma forma, no cérebro, as experiências repetidas fortalecem determinadas conexões neurais enquanto outras, menos utilizadas, podem se enfraquecer – um processo conhecido como “poda sináptica”. É por isso que os estímulos recebidos durante a infância são tão cruciais: eles literalmente moldam a arquitetura cerebral que servirá de base para toda a vida.

A neuroplasticidade varia conforme a idade. No período sensível do desenvolvimento (aproximadamente até os 7 anos), o cérebro possui uma maleabilidade extraordinária, respondendo intensamente aos estímulos. Na adolescência, ocorre uma reorganização significativa, especialmente nas áreas responsáveis pelo planejamento e tomada de decisões. Já na idade adulta, embora a plasticidade diminua, ela permanece presente, permitindo a aquisição de novas habilidades e recuperação de certas funções após lesões neurológicas.

Apps de Comunicação: Quais São e Como Estimulam o Cérebro?

Os aplicativos de comunicação compõem um universo vasto e diversificado, projetados para atender diferentes necessidades e estimular várias áreas cerebrais. Entre os mais impactantes estão os aplicativos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), que oferecem suporte para crianças com dificuldades na fala ou comunicação. Aplicativos como o Livox, LetMe Talk e Proloquo2Go utilizam sistemas baseados em símbolos, imagens e sintetizadores de voz para facilitar a expressão e compreensão, ativando simultaneamente circuitos visuais, auditivos e linguísticos no cérebro infantil.

Outro grupo importante inclui os apps de desenvolvimento de linguagem como o Speech Blubs, Articulation Station e Falar e Brincar, que estimulam áreas específicas do hemisfério esquerdo do cérebro – tradicionalmente associado ao processamento linguístico. Estas ferramentas trabalham com repetição, reconhecimento de padrões e imitação, fortalecendo as conexões neurais nas regiões frontal inferior e temporal superior, fundamentais para a produção e compreensão da linguagem.

Jogos educativos cognitivos como Lumosity Kids, Cognifit e Mind Games ativam o córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas como atenção, memória de trabalho e controle inibitório. Estas aplicações geralmente apresentam desafios progressivos que se adaptam ao desempenho da criança, criando um estado de “fluxo ótimo” que mantém o engajamento enquanto estimula a formação de novas conexões neurais através do princípio da neuroplasticidade dependente de atividade.

Os mecanismos neurofisiológicos subjacentes à interação com estes aplicativos envolvem processos complexos. Quando uma criança utiliza um app de comunicação, múltiplas áreas cerebrais são ativadas simultaneamente: os lobos occipitais processam informações visuais, o córtex temporal trabalha com inputs auditivos, enquanto as áreas associativas integram estas informações com conhecimentos prévios. Esta estimulação multimodal fortalece as vias de integração sensorial e pode criar rotas neurais alternativas, especialmente benéficas para crianças com condições como autismo, apraxia ou atrasos de desenvolvimento.

Efeitos Positivos das Ferramentas Digitais no Desenvolvimento Infantil

As ferramentas digitais de comunicação têm demonstrado potencial transformador no desenvolvimento infantil, especialmente quando utilizadas de forma estruturada e adequada à idade. No campo da linguagem, estudos têm documentado ganhos significativos em vocabulário, construção frasal e compreensão contextual. Crianças com atrasos de linguagem que utilizam aplicativos como o Speech Blubs ou Otsimo apresentam, em média, um aumento de 30% no repertório lexical após seis meses de uso consistente, além de melhora na articulação e fluência verbal.

A socialização também se beneficia substancialmente dessas tecnologias. Apps de histórias sociais como o Social Stories Creator e comunicação visual como o PicSeePal proporcionam estruturas que facilitam a compreensão de regras sociais implícitas, desenvolvimento de empatia e interpretação de expressões faciais. Para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), estas ferramentas funcionam como “pontes” para interações sociais mais efetivas, aumentando significativamente o tempo de engajamento em atividades compartilhadas e reduzindo comportamentos de isolamento.

No aspecto cognitivo, aplicativos de resolução de problemas e pensamento lógico estimulam habilidades fundamentais como memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Um estudo longitudinal com 215 crianças demonstrou que o uso regular de apps como o Lumosity Kids ou CogniFit por 15 minutos diários resultou em melhoras mensuráveis nas funções executivas após 12 semanas, com efeitos mais pronunciados em crianças com dificuldades atencionais prévias.

A autonomia é outro ganho substancial proporcionado por estas tecnologias. Sistemas de CAA como o Grid 3 ou GoTalk Now permitem que crianças não-verbais ou com limitações motoras possam expressar necessidades, fazer escolhas e participar ativamente de decisões cotidianas. Este aumento na independência não apenas fortalece a autoestima, mas também ativa circuitos de recompensa cerebral que incentivam mais tentativas de comunicação, criando um ciclo positivo de desenvolvimento. Para crianças com paralisia cerebral ou distrofia muscular, por exemplo, estas ferramentas representam muitas vezes o primeiro canal efetivo de expressão autônoma, impactando profundamente sua qualidade de vida e participação social.

Desafios e Riscos: Quando a Adaptação Pode Ser Prejudicial?

Apesar dos numerosos benefícios, o uso de aplicativos de comunicação também apresenta desafios importantes que precisam ser considerados. O tempo excessivo de exposição às telas é um dos principais fatores de risco, capaz de provocar adaptações neurais contraproducentes. Estudos de neuroimagem têm demonstrado que crianças menores de 2 anos expostas a mais de duas horas diárias de telas apresentam alterações na substância branca cerebral, particularmente nas vias de conexão fronto-temporais, fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e habilidades sociais.

A dependência excessiva de tecnologia para comunicação também pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades naturais de interação. Quando utilizados como substitutos – e não como complementos – da comunicação face a face, os aplicativos podem inadvertidamente reforçar padrões de isolamento social, especialmente em crianças com predisposição a dificuldades sociais. É fundamental manter um equilíbrio que utilize a tecnologia como ponte para interações reais, não como substituto delas.

Sinais de Alerta que Exigem Atenção

  • Deterioração na qualidade do sono ou alterações significativas no padrão de sono após o uso de dispositivos eletrônicos
  • Irritabilidade ou comportamento agressivo quando o acesso ao aplicativo é limitado ou interrompido
  • Diminuição do interesse em formas não-digitais de comunicação e interação
  • Uso compulsivo do aplicativo, mesmo quando outras atividades importantes estão disponíveis
  • Regressão em habilidades de comunicação previamente adquiridas quando o dispositivo não está disponível
  • Fadiga visual, dores de cabeça ou desconforto físico associados ao uso prolongado
  • Isolamento social progressivo, com preferência por interações mediadas pela tecnologia em detrimento de contatos presenciais

Estudos Recentes: O Que a Ciência Revela?

A neurociência tem avançado significativamente na compreensão de como a tecnologia interage com o desenvolvimento cerebral infantil. Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Stanford acompanhou 218 crianças entre 3 e 8 anos durante dois anos, utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) para avaliar as mudanças cerebrais associadas ao uso de aplicativos de comunicação. Os resultados revelaram um aumento de conectividade nas redes de linguagem e atenção em 78% das crianças que utilizaram regularmente aplicativos educacionais linguísticos, em comparação com o grupo controle.

Outra descoberta importante veio de um estudo publicado no Journal of Cognitive Neuroscience, que analisou os padrões de ativação cerebral em crianças com Transtorno do Espectro Autista antes e depois de seis meses de intervenção com aplicativos de CAA. Os pesquisadores observaram maior ativação das áreas de Broca e Wernicke (regiões cerebrais associadas à produção e compreensão da linguagem), assim como melhor sincronização entre os hemisférios cerebrais após o período de intervenção digital estruturada.

O aspecto temporal do uso de tecnologia também foi objeto de um estudo longitudinal da Universidade de Washington, que acompanhou 342 crianças desde o nascimento até os 10 anos. A pesquisa estabeleceu correlações entre padrões de uso de mídia digital e desenvolvimento cognitivo, identificando uma “janela ideal” de exposição: o uso moderado (30-60 minutos diários) de aplicativos educacionais entre 3 e 5 anos correlacionou-se positivamente com melhores habilidades linguísticas e matemáticas na idade escolar. Contudo, exposição prolongada antes dos 2 anos mostrou correlação negativa com desenvolvimento de linguagem.

Um aspecto particularmente interessante foi revelado por pesquisadores da Universidade de Toronto, que analisaram como diferentes interfaces de aplicativos afetam o processamento cerebral. Aplicativos que exigiam interação tátil (tocar, arrastar, desenhar) geraram maior ativação nas áreas sensório-motoras e de integração visuo-espacial em comparação com aplicativos que requeriam apenas observação passiva. Este achado sugere que elementos de design de interface podem ser cruciais para maximizar o potencial de desenvolvimento neurológico dos aplicativos educacionais.

Estudos utilizando eletroencefalografia (EEG) conduzidos pelo Center for Neurodevelopmental Research demonstraram ainda que a interação social mediada por tecnologia (como videochamadas ou jogos colaborativos) ativa circuitos neurais semelhantes aos envolvidos na interação presencial, sugerindo que nem toda “tela” tem o mesmo impacto no desenvolvimento cerebral – o contexto e a natureza da interação são determinantes para os efeitos neuroplásticos.

Dicas para Maximizar Benefícios e Prevenir Problemas no Uso de Apps

A implementação eficaz de aplicativos de comunicação requer estratégias cuidadosas que maximizem seus benefícios enquanto minimizam riscos potenciais. Especialistas em desenvolvimento infantil e neurociência educacional oferecem recomendações baseadas em evidências para orientar famílias e profissionais neste processo. A Academia Americana de Pediatria recomenda que o tempo de tela seja limitado conforme a idade: para crianças entre 2 e 5 anos, o ideal é não ultrapassar uma hora diária de uso de mídia digital de alta qualidade, sempre com supervisão adulta.

O contexto de uso também é fundamental: aplicativos devem ser introduzidos como ferramentas complementares, não como substituição de interações humanas. A prática de “mídia compartilhada” – quando adultos utilizam o aplicativo junto com a criança, fazendo perguntas e expandindo conceitos – multiplica significativamente os ganhos cognitivos e linguísticos, conforme demonstrado por estudos da Universidade de Temple.

Checklist para Uso Benéfico de Apps

  • Selecione com critério: Priorize aplicativos desenvolvidos por equipes multidisciplinares, que considerem aspectos pedagógicos e de desenvolvimento neurológico.
  • Estabeleça limites claros: Defina horários específicos para uso de tecnologia, evitando seu uso uma hora antes de dormir.
  • Pratique o uso compartilhado: Explore os aplicativos junto com a criança, fazendo conexões com experiências do mundo real.
  • Monitore as reações: Observe como a criança responde ao uso do aplicativo – sinais de estresse ou sobrecarga sensorial indicam necessidade de pausa.
  • Alterne modalidades: Intercale o uso digital com atividades físicas, sociais e artísticas para um desenvolvimento equilibrado.
  • Personalize a experiência: Ajuste configurações de velocidade, complexidade e estímulos sensoriais às necessidades específicas da criança.
  • Avalie regularmente: Reavalie periodicamente se o aplicativo continua apropriado ao estágio de desenvolvimento atual da criança.
  • Facilite a generalização: Crie oportunidades para a criança aplicar no mundo real as habilidades praticadas no ambiente digital.
  • Mantenha-se atualizado: Acompanhe pesquisas recentes e atualizações sobre recomendações de uso de tecnologia para diferentes faixas etárias.

Profissionais como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos podem oferecer orientações personalizadas sobre aplicativos específicos mais indicados para cada perfil de desenvolvimento, assim como estratégias de implementação que potencializem as vantagens da neuroplasticidade enquanto respeitam as particularidades neurológicas de cada criança.

Neuroplasticidade Digital em Contextos Específicos

A aplicação de tecnologias de comunicação varia significativamente conforme o contexto e as necessidades específicas de desenvolvimento. Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, frequentemente apresentam processamento sensorial atípico e preferência por estímulos visuais, características que podem ser estrategicamente aproveitadas por aplicativos adaptados. Em um estudo controlado com 87 crianças com TEA, o uso sistemático de aplicativos como o Avaz ou Proloquo2Go por 20 minutos diários resultou em aumento de 40% nas iniciativas comunicativas após quatro meses, especialmente em crianças minimamente verbais.

Para crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), aplicativos que incorporam elementos de gamificação com recompensas imediatas e feedback multissensorial demonstram maior eficácia. Estudos de acompanhamento neuropsicológico evidenciam que apps como MeMotiva e Attention Workout, quando utilizados dentro de programas de intervenção estruturados, promovem melhorias significativas na capacidade atencional sustentada e no controle inibitório, refletindo-se nas medições de potenciais relacionados a eventos (ERP) durante tarefas cognitivas.

No contexto da reabilitação pós-traumática, crianças com lesões cerebrais adquiridas têm se beneficiado de aplicativos que exploram a reorganização cortical através de estímulos repetitivos gradualmente complexificados. O processo conhecido como “plasticidade compensatória” – quando áreas cerebrais não afetadas assumem funções das regiões lesionadas – pode ser potencializado por certas aplicações digitais. Um estudo de caso com 32 crianças em recuperação de traumatismo cranioencefálico demonstrou que aquelas que utilizaram apps de reabilitação cognitiva personalizada apresentaram recuperação funcional 27% mais rápida em habilidades linguísticas expressivas.

Para crianças multilíngues ou em processo de aquisição de segunda língua, aplicativos que alternam entre diferentes idiomas ativam circuitos da função executiva associados ao controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Neuroimagens funcionais revelam maior densidade de matéria cinzenta nas regiões pré-frontais inferiores após períodos prolongados de treinamento com estes aplicativos, sugerindo que a exposição a múltiplos sistemas linguísticos através da tecnologia pode acelerar o desenvolvimento das funções executivas.

Em ambientes educacionais inclusivos, a implementação coordenada de tecnologias assistivas digitais tem demonstrado impactos positivos não apenas para estudantes com necessidades específicas, mas para todo o grupo. Uma pesquisa longitudinal em 18 salas de aula inclusivas mostrou que a normalização do uso de aplicativos de comunicação aumentativa para todos os alunos reduziu estigmas sociais e aumentou a aceitação da diversidade comunicativa, criando um ambiente mais propício para interações sociais significativas.

Perspectivas Futuras: Tendências em Tecnologia e Neurociência

O campo da tecnologia educacional e terapêutica está em constante evolução, com inovações que prometem revolucionar ainda mais a forma como entendemos a interação entre apps e neuroplasticidade. A integração de realidade aumentada (RA) em aplicativos de comunicação representa uma fronteira particularmente promissora. Protótipos de apps que sobrepõem informações visuais ao ambiente real estão sendo testados para facilitar a compreensão contextual e social em crianças com dificuldades pragmáticas da linguagem.

A neuromodulação não-invasiva, como a estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), começa a ser investigada em conjunto com intervenções baseadas em aplicativos. Estudos preliminares sugerem que a estimulação de baixa intensidade em regiões específicas do cérebro durante o uso de certas aplicações pode potencializar o aprendizado e a reorganização neural, especialmente em casos de transtornos específicos de aprendizagem.

Os avanços em inteligência artificial estão permitindo o desenvolvimento de aplicativos cada vez mais adaptativos, capazes de ajustar parâmetros como velocidade, complexidade e tipo de estímulo em tempo real, baseando-se no desempenho e respostas fisiológicas da criança. Sistemas que utilizam eye-tracking e reconhecimento de expressões faciais para avaliar o nível de engajamento e compreensão representam a próxima geração de ferramentas digitais personalizadas.

A neurofeedback integrado a aplicativos educacionais emerge como outra tendência significativa. Dispositivos portáteis de EEG já estão sendo utilizados experimentalmente para fornecer feedback imediato sobre estados de atenção durante o uso de apps, permitindo que as crianças desenvolvam maior metacognição e autorregulação – habilidades fortemente correlacionadas com sucesso acadêmico e social a longo prazo.

Pesquisadores da área de epigenética estão começando a investigar como diferentes padrões de uso de tecnologia podem influenciar a expressão gênica relacionada ao desenvolvimento neural. Estudos pioneiros sugerem que a qualidade das interações digitais pode ter impactos mensuráveis em marcadores epigenéticos associados à plasticidade sináptica, abrindo caminho para uma compreensão mais profunda de como os ambientes digitais moldam nosso cérebro a nível molecular.

À medida que estas tecnologias avançam, aumenta também a importância de diretrizes éticas para seu desenvolvimento e implementação. Organizações como a International Society for Neurodevelopmental Technology têm trabalhado na criação de marcos regulatórios que garantam que aplicativos educacionais e terapêuticos sejam desenvolvidos com base em evidências científicas sólidas e respeito aos direitos de privacidade e autonomia das crianças.

Conclusão

A intersecção entre aplicativos de comunicação e neuroplasticidade representa um campo fascinante que está transformando nossa compreensão sobre desenvolvimento infantil na era digital. As evidências científicas acumuladas nos últimos anos demonstram claramente que estas ferramentas tecnológicas não são intrinsecamente benéficas ou prejudiciais – seu impacto depende fundamentalmente de como, quando e por que são utilizadas. A capacidade extraordinária do cérebro infantil de se adaptar a diferentes estímulos oferece tanto oportunidades quanto responsabilidades para pais, educadores e desenvolvedores de tecnologia.

O potencial transformador dos aplicativos de comunicação é particularmente relevante para crianças com diferentes perfis neurológicos ou necessidades específicas de desenvolvimento. Quando implementados de forma estratégica, com mediação adequada e dentro de limites apropriados para cada idade, esses recursos tecnológicos podem efetivamente criar novas rotas neurais, fortalecer conexões existentes e abrir possibilidades comunicativas antes inacessíveis. Contudo, este mesmo potencial exige uma abordagem crítica e informada, baseada nos princípios de desenvolvimento neurológico saudável.

À medida que avançamos neste território relativamente novo, torna-se cada vez mais importante manter um diálogo aberto entre neurocientistas, desenvolvedores de tecnologia, profissionais da educação e famílias. A colaboração multidisciplinar é essencial para garantir que o design e a implementação de aplicativos educacionais e terapêuticos estejam alinhados com o conhecimento atual sobre desenvolvimento cerebral. O futuro provavelmente nos trará ferramentas digitais ainda mais sofisticadas e personalizadas, capazes de adaptar-se às necessidades específicas de cada criança. No entanto, a tecnologia mais avançada jamais substituirá o elemento fundamental do desenvolvimento infantil saudável: relacionamentos humanos significativos, ricos em interações face a face que engajam múltiplos sentidos e emoções.

Encorajamos pais e profissionais a manterem-se informados sobre as pesquisas mais recentes, a avaliarem criticamente as ferramentas digitais disponíveis e a privilegiarem abordagens equilibradas que integrem tecnologia como complemento – nunca como substituto – das experiências diretas com o mundo real. A neuroplasticidade é, afinal, uma faca de dois gumes: o cérebro se adapta tanto às experiências enriquecedoras quanto às empobrecedoras. Nossa responsabilidade coletiva é garantir que a revolução digital amplie, em vez de limitar, o potencial de desenvolvimento de cada criança.

Fontes para consulta


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    URL: https://periodicos.ufabc.edu.br/index.php/revincluso/article/view/846
    Descrição: Publicação da Universidade Federal do ABC que analisa o impacto de aplicativos digitais no desenvolvimento de habilidades comunicativas e sociais em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), trazendo uma abordagem científica, prática e baseada em evidências nacionais.
  2. Revista Enfermagem Atual In Derme
    URL: https://revistaenfermagematual.com.br/index.php/revista/article/view/566
    Descrição: Revisão integrativa que discute a funcionalidade dos recursos digitais no ensino-aprendizagem de crianças autistas, abordando tanto benefícios quanto desafios no contexto educacional brasileiro.
  3. Revista Brasileira de Informática na Educação
    URL: https://journals-sol.sbc.org.br/index.php/rbie/article/view/2907
    Descrição: Estudo acadêmico que avalia o impacto do uso de aplicativos móveis no cotidiano de crianças autistas por meio da análise de diários de usuários, ressaltando aspectos comportamentais, cognitivos e sociais.
  4. Revista Tempos e Espaços em Educação
    URL: https://periodicos.ufs.br/revtee/article/view/18610
    Descrição: Pesquisa sobre o uso de recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) como tecnologia assistiva, com foco na promoção da interação e aprendizagem de alunos com autismo.
  5. Texto Livre: Linguagem e Tecnologia (Redalyc)
    URL: https://www.redalyc.org/journal/5771/577164136003/html/
    Descrição: Revisão sistemática sobre o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) na alfabetização de pessoas com TEA, apresentando um panorama amplo de práticas e pesquisas.
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    URL: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/13496
    Descrição: Artigo que investiga a interface entre autismo e tecnologia digital, explorando contribuições desses recursos para a comunicação, cognição e autonomia de pessoas autistas.
  7. Humanas Sociais & Aplicadas (Perspectivas Online)
    URL: https://www.perspectivasonline.com.br/humanas_sociais_e_aplicadas/article/view/3047
    Descrição: Estudo aprofundado sobre a Comunicação Alternativa como tecnologia assistiva para o desenvolvimento da linguagem em indivíduos com TEA, com base em literatura e experiências em campo.
  8. EccoS – Revista Científica (UNINOVE)
    URL: https://uninove.emnuvens.com.br/eccos/article/view/10652
    Descrição: Pesquisa sobre a aplicação de aplicativos baseados no método TEACCH em dispositivos móveis, destacando avanços no processo de alfabetização de crianças autistas.
  9. Revista Brasileira de Informática na Educação (RBIE)
    URL: https://journals-sol.sbc.org.br/index.php/rbie/article/view/2423
    Descrição: Estudo nacional que identifica e avalia aplicativos usados em intervenções comportamentais no contexto escolar do autismo, com avaliação de qualidade e usabilidade.
  10. arXiv.org
    URL: https://arxiv.org/abs/1806.01041
    Descrição: Revisão sistemática e prática de aplicativos móveis para suporte à população com Transtorno do Espectro Autista, apresentando análise internacional (perspectiva hispânica) de usos, vantagens e limitações tecnológicas.

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